quinta-feira, 18 de agosto de 2016

QUERIDA SARA, (15a. Carta)



Começo esta carta com o mesmo trecho que mandou de “Sound of Silence:-

“Olá escuridão, minha velha amiga
Eu vim para conversar com você novamente
Por causa de uma visão que se aproxima suavemente
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo
E a visão que foi plantada em minha mente
Ainda permanece
Dentro do som do silêncio"

É assim que me sinto hoje e como você sentiu quando te contei.
Lá fora os ventos fustigam as janelas e a chuva cai torrencialmente aqui em Curitiba.
Deve ser o mundo acabando porque eu acabei com uma amizade pura de anos. Desculpe se estou sendo dramática e fazendo-me de vítima. Meu sofrimento está cima do meu pudor.

Ultimamente também fico à meia luz, sentada na poltrona velha, ouvindo apenas o tic-tac do relógio velho, morando na casa velha, onde tudo é velho, inclusive os meus sentimentos.
Nisto tudo, tem um lado que me consola porque sinto que o Pedro está animado com o tratamento, embora este mesmo tratamento leve toda a dignidade da pessoa até ela melhorar completamente. Mas ele é jovem, forte e tudo vai ficar bem.

Sara, quando vou poder caminhar o caminho da nossa amizade novamente?
Quando vou poder caminhar o caminho do seu coração? Do seu perdão?

Eu sou sua amiga. Mas fui a maior traidora daqueles dias lindos de amizade pura que tivemos com nossas famílias.  Você e Olívio era a minha família! Vou morrer e esta culpa vai me acompanhar. A única esperança que tenho é se pudermos um dia sentar frente a frente e conversamos sobre tudo.  Eu não tenho explicações para o que aconteceu, mas quero explicar!

Só sei que somos ligados agora mais que antes. A Maria Cecília me ronda querendo saber o motivo da minha inanição quando não estou com o Pedro. Devo contar a ela? Não sei. Eu a fiz vir aqui para dar a sua porção de amor que um filho precisa quando está doente. Ela mais vai ao shopping do que fica com ele. Mas está aqui.

Lisa vai chegar amanhã. Lembra-se dela? Aquela namorada- amiga do Pedro, a qual ele nunca assumiu nem prá si próprio que ama. Pedro está eufórico e sinto que quando ela chegar, o Kiko vai poder voltar para ficar contigo.

Repito, não quero ser vítima. Mas a velhice me permite implorar. Eu imploro! Dê-me uma chance de revê-la e tentar curar esta ferida que se abriu no meu peito e que sempre doeu desde que a Maria Cecília nasceu.  
Eu pensei em morrer com este segredo. Porque não mudaria quase nada para ninguém. Mas com certeza o meu inconsciente queria te contar. Só não sei se conseguirei viver o com julgamento de todos.  Mas acredito que os percalços desta vida devam ser revelados e relevados se for o caso. 

Se não for o nosso caso, tenha sempre em seu coração que eu sou sua amiga até o infinito.

Para sempre,

Clara

 (TODOS OS DIREITOS RESERVADOS) publicação seg/quarta e domingo.




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