sábado, 17 de setembro de 2016

DEAR SOPHIA (22a. Carta)

Encostada na janela da ante-sala do quarto do Pedro, olho lá fora e só observo a chuva que cai sem parar.

 O dia amanheceu cinzento e triste, mas por incrível que pareça, o Pedro acordou melhor. Ele dorme agora. Ouvi os seus conselhos e conversei com ele.

Depois do café e quando todos saíram, ficamos de mãos dados olhando um para o outro e ele sorria sem parar. Eu pensei, é agora.

Comecei timidamente: “Pedro, sei que deve estar esperando eu falar contigo sobre aquela carta de quando eu ainda estava em Londres e que você manifestou o seu sentimento por mim. Não é isto?” Ele me olhou e sorriu. Ficamos assim, de mãos dadas rindo um para o outro.

Foi então que ele disse: “Sabe Lisa, eu fiquei muitos dias esperando você falar comigo sobre isto e ao mesmo tempo, eu não tinha coragem de falar pessoalmente. Mas depois de tudo que passamos aqui juntos, você do meu lado, me apoiando, largando toda a sua vida lá para ficar aqui, sinceramente, este seu amor já está de bom tamanho”.

Fiquei surpresa e sem ação Sophia. Ele do nada, resolveu toda a questão entre nós e facilitou tudo para mim. Não sei se estava fazendo isto para me deixar a vontade, ou se realmente estava agora muito mais focado em ficar bem.

Mas assim mesmo eu respondi: “Obrigada Pedro por facilitar tanto as coisas para mim... mas quero te dizer que sempre fomos amigos e não vou dizer que não rolou uma atração na faculdade e eu tive  até uma certa paixonite por você, mas depois fomos ficando muito mais amigos que amantes... (Ele riu), (eu ri).
 Então, depois destes anos todos, você me pegou de surpresa mesmo. Não  sei o que te dizer.”

Aí ele colocou as mãos em meus lábios e disse: “Não precisa falar mais nada não Lisa”, não, por favor, não estrague este momento nosso. Não quero saber se tem alguém, se não há possibilidades, nada,  não agora. Não neste momento ruim que estou passando. “Deixe-me ter ao menos uma ilusão” – Ele disse isto sorrindo, mas vi  passar no fundo dos seus olhos, uma sombra de dor que passou rápido, sabe Sophia?

Então, pensei, ele não quer saber de nada e eu não preciso dizer nada então. Mas pelo menos, falamos sobre isto. Aí continuamos de mãos dados, nos abraçamos e ele disse que iria dormir um pouco. Foi quando vim aqui para esta sala e comecei a pensar sobre tudo, a ver a chuva e a escrever para você.

Estou com um misto de sentimentos muito estranhos, algo aperta a minha garganta, mas não consigo chorar. Não quero te preocupar, mas sei que  já estou. Desde que voltei ao Brasil, sinto este misto de lembranças, saudades, aconchegos, retornos, partidas.

Sophia,  sei que não estou sendo justa contigo, mas preciso estar aqui agora e prometo que assim que tudo passar, teremos uma longa conversa sobre tudo o que gira nestes círculos de sentimentos loucos que se apoderaram de mim  depois da volta à minha vida aqui.
Um beijo e por favor, seja paciente comigo,

Missing you.


Lisa.
(Publicação segunda ou quarta e sábado) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

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