domingo, 31 de agosto de 2014

INÍCIO

                                         VENTO NA BLUSA...

Para quem não sabe, na minha família a expressão "vento na blusa" significa algo como "dar linha na pipa", desaparecer, sumir, tomar uma decisão diferente do imaginado.

Então, sempre quando uma pessoa desaparecia da nossa convivência, a minha avó que era uma figura em vida, dizia: "Hum, aquele ou aquela tomou vento na blusa", eu adorava e  ria demais da expressão. Aliás, ela era mestra das expressões hilárias.

Então, quando resolvi criar o blog, meu sentimento não era de desaparecer, mas sim de aparecer com o inverso do que vivo, mostrar meus sentimentos e ideias, fazer algo novo do algo velho que sempre acalentei em meu íntimo. Ou seja, tomar Vento na Blusa = a Ser feliz!


AFINAL, CAPITU TRAIU OU NÃO BENTINHO EM DOM CASMURRO?




Capitu traiu ou não Bentinho?  Essa pergunta ronda os leitores de Machado de Assis e os aficionados (como eu) por esta trama de fundo, aliás, bem fundo psicológico.
Bom eu li Machado desde sempre. Ai, desculpem a minha intimidade com ele ...É que o Machado faz parte da minha vida, assim, tipo, desde os 12 anos quando li o primeiro livro dele “Helena”.

 Apaixonei-me por ele de cara. Se bem que era tão criança que ainda não conseguia entender bem as nuances do romance entre Helena e Estácio. Mas, bem, estou aqui para falar de Dom Casmurro... (Só para constar, os críticos diziam que Helena foi um dos livros mais ingênuos de Machado de Assis, ...discordo...). 

Bom, as pergunta é: Capitu traiu ou não o Bentinho? Quando li a primeira vez, quando era bem jovem, eu tinha quase a certeza absoluta que sim. Pena que não havia exames de DNA na época, tudo seria resolvido, eu pensava. E complementava, que dó de Bentinho! Safada esta Capitu!

Depois, mais adulta, li de novo e continuei com a certeza. Sim, a danada da Capitu “pulou a cerca” sim senhora!
Depois de anos vividos, de desilusões sofridas e de cursar um bom tempo a estrada do ciúme, este sentimento que é o inferno dos amantes (hum...parodiando o estilo de Assis), eu da altura desta minha experiência traumatizante  e da  minha modesta convicção de leitora contumaz de Machado , digo em alto e bom som: BENTINHO IMAGINOU TUDO!

Sim, ele criou, fantasiou que a Capitu o havia traído. E com esta certeza devastadora criou imagens, olhares, encontros e por fim, ao fim de tudo, via no próprio filho, a imagem do outro.
Se observarmos bem, o ciúme alimenta, aumenta e acrescenta situações pequenas, em grandes, em absurdas e em extremamente doloridas.
Sim, Bentinho sofria do mal de excesso de amor e pouco amor próprio, típico dos ciumentos e de porte disto, jogou fora todo um amor e vida construídos.
Mas Machado de Assis merece aplausos como lógico ele vem recebendo ao longo dos anos, quem sou eu para ficar dizendo isto, pois escreveu um belo tratado ao ciúme.

Mas aqueles olhos de ressaca da Capitu... 



A CEGUEIRA SENTIMENTAL POR TRÁS DE "E O VENTO LEVOU..."

Ganhei aos 17 anos o livro "E o vento levou..." de Margaret Mitchell.


Pasme, quem  ainda não o  leu, a edição que ganhei tinha por volta de 900 páginas!
Pois é, mas eu leitora voraz não desanimei, aliás, me entusiasmei e muito.
Para ser mais direta, devo ter lido "E o vento levou..." umas quatro vezes ao longo da vida, fora às vezes que o reli, apenas pelo meu bel prazer.
O mais interessante na estória é que a despeito do romance e da guerra de secessão como cenário de fundo, o destaque no enredo deste livro é sem dúvida a personalidade forte de Sarlett O'hara, ah sim, todos vão dizer, mas isto é clichê, a personagem é forte, destemida, etc. e tal. Todos veem...

Sim, o personagem é tudo isto e muito mais em qualidades e "defeitos" que pode apresentar um ser humano.

Mas o mais interessante são os "defeitos" de Scarlet O'hara, sua arrogância, sua ambição e principalmente a sua secular cegueira em identificar o real amor que encontrou,  ou seja, o destemido Rhett Butler.  Destemido sim, porque para enfrentar aquela fera... Inesquecível a cena de quando ela arranca as cortinas de casa e faz um vestido para tentar seduzir Rett que está preso...

Para mim, foi sim, o ponto alto do enredo esta personalidade ímpar em força e em coragem, sobreviver a uma guerra e não conseguir enxergar o amor verdadeiro que lhe era oferecido de bandeja ao longo da sua vida .

Esta estória exemplifica muito bem a vida real, onde muitas vezes a nossa cegueira do coração é o nosso maior adversário e em vários aspectos da vida.
Vale o livro, vale o filme, vale esta estória atemporal!