quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O PRIMEIRO LIVRO



Sempre gostei de ler. Na minha época, as crianças não eram estimuladas tão cedo.

 Entrei para a escola com sete anos. Não “pude fazer o jardim-da- infância” como era chamado no meu tempo, o que seria hoje a pré-escola.  Era muito tímida, medrosa e comportada.

Éramos muito pobres e se me matriculassem no “jardim-de-infância – que por sinal era o meu sonho naquela época - pois a professora  daquela série era um anjo,  o material seria caro para minha mãe pagar. Era outro Brasil...

Antes de entrar para a escola, eu já folheava avidamente os gibis dos meus tios e ficava desesperada para entender o que o Pato Donald ou o Mickey estavam dizendo.
 Agastava minha irmã que era dois anos mais velha do que eu e que já sabia ler.
Sentia-me cega e impotente por não entender o que estava escrito.

Assim, quando entrei no primeiro ano, o método no início dos anos 70 era a cartilha chamada por sinal "Caminho Suave” _ que de suave não tinha nada _ e depois se passava para o primeiro livro.

A nossa professora era iluminada e nos incentivava muito;  fazia-nos sonhar com o dia que pegássemos o primeiro livro nas mãos e pudéssemos lê-lo.

Muito bem, ela fantasiava e eu sonhava com este dia. Com  dificuldades minha mãe pagou o livro adiantado conforme exigia.

Eu estava em uma expectativa enorme, ainda mais que nossa professora decidiu fazer um bolo, sucos, uma verdadeira festa para entregar o primeiro livro aos alunos.
 Eu até sonhava com este momento especial.

Chegou o tão esperado dia. Houve bolos, “os ‘ki sucos”, bexiga e nada do livro.
Meu estômago até embrulhava de tanta expectativa.
Começou a entrega que foi só no final da festa. A professora ia chamando os nomes dos alunos os quais as mães já haviam pago e entregando o livro com um abraço, um parabéns, etc.

Chamavam todos, menos o meu nome. Eu ansiosa, já com vontade de chorar e gritar.

Nada.  No finalzinho da chamada, ela diz: “Rita”! , eu gelei. Pensei, e eu???  Para explicar, esta “Rita’” era a garota queridinha de todos os professores, pelos mesmos motivos que ainda acontecem nos dias de hoje. Nepotismo.

Quando “Rita” chegou para pegar o livro toda feliz, a força do meu olhar fez com que a professora olhasse para mim e percebesse toda a angustia e mesmo censura nos meus olhos.

Fez menção de entregar o livro para Rita, me olhou novamente, eu quase chorando, voltou, consultou a lista e disse: ‘’É minha querida Rita, o seu ainda não foi pago. (Era esta a sensibilidade dos anos 70...).
E dando uma olhada geral na classe: Quem falta ainda?
Como se eu ainda não faltasse!!- pensei.  Levantei o braço e disse: Eu, professora!! A minha mãe já pagou!"
 Até eu mesma me surpreendi com minha coragem. Ela anuiu e me entregou o objeto da minha cobiça.

Nunca fiquei tão feliz na minha vida. Guardo isto com um carinho especial! O livro e a justiça feita.

Já sofri muitas injustiças na vida, como todos neste mundo, mas esta talvez fosse a mais imperdoável, porque acalentei aquele dia do  primeiro livro, como um sonho desde os dias que vi as primeiras letras na minha vida.

Com o livro em mãos, corri para casa, sentei-me embaixo do abacateiro que tínhamos no quintal e li, li, li, até o cair da noite.  Nunca mais parei de ler desde aquele dia.


(FIM)  POR ANGELA GASPARETTO

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

QUERIDA SARA (25a. Carta)



Uma luz agora se abriu no jardim lá fora e ela representa bem como está o meu coração.
Abriu-se uma luz para nós todos aqui.

Se pudesse eu sairia a cantar e dançar feito a louca que fui na juventude (risos).
Sara, a alegria que sinto não cabe em meu coração.

Depois do buraco negro que estávamos todos metidos, foram tantas coisas boas acontecendo aqui, que definitivamente, Deus ouviu as minhas preces. O Pedro se saiu bem no transplante, está indo cada vez melhor e todos nós respiramos aliviados.

Sara, Sara, Sara! Como estou feliz!!! Acho que faltava você chegar com o seu perdão para que a barreira que segurava as minhas orações, pudessem ser ouvidas por Deus.

Desculpe, não estou colocando um fardo nas costas. Mas a minha tristeza pelo Pedro misturou com a dor do nosso atrito e eu rezava, rezava, mas sentia-me extremamente culpada.
Achava que Deus não iria ouvir as minhas preces.

Mas enfim, eu só posso te agradecer de joelhos pela amizade, pelo carinho, pela alma nobre que você tem e por tudo que passamos juntas e conseguimos sobreviver.

Sara, era esta a notícia que queria te dar. Fiquei muito feliz de tê-la aqui segurando as minhas mãos durante o procedimento do Pedro e depois ainda ficou mais alguns dias para dar esta força que só você poderia me dar. OBRIGADA! QUE DEUS TE ABENÇÕE SEMPRE.

O Pedro está cada vez mais forte e passa horas conversando comigo ou com a Lisa.

Ela veio segredar comigo que ele havia se declarado a ela. Bem, eu disse, “todos sabíamos Lisa, achávamos que você também”. Ela disse que suspeitava na adolescência, mas que depois enfim, a vida tomou outros rumos. Esta moçada... E olha que não estão tão novos assim.

Só que a Lisa estava começando a ficar agoniada porque agora que ele estava melhor, queria conversar com ele sobre este assunto e não havia jeito dele a deixar falar.

Aconteceu que ontem, segundo ela, eles conversaram e a Lisa disse que estava muito feliz com este amor, mas que atualmente ela tem uma pessoa. Lisa estava receosa da reação do Pedro. Segundo ela, ele recebeu bem a notícia e disse que para ela não se preocupar porque o que ele precisava era dizer a ela, apenas isto. Não poderia morrer sem dizer ou tentar. Mas que ela era livre para viver o que era dela e tomar qualquer decisão que achasse melhor.

Parece que Lisa ficou decepcionada com a reação do Pedro. Ela saiu do quarto pensativa e ficou muito tempo olhando para o jardim no hospital. Ficou meio perdida. 
Depois quando conversamos, ela disse que ficou contente com a atitude do Pedro, mas que achava que ele demonstraria alguma decepção ou insistiria.

Eu sorri intimamente Sara, porque depois dessa, acho que o meu neto tem chances. Vejo que ele está melhor, porque acredito que esta atitude dele é um blefe (risos).

Lisa anda pelos cantos agora, vem todos os dias ao hospital e amanhã quando o Pedro tiver alta, disse que virá acompanhá-lo. Fico muito feliz que ela esteja presente e quero ver agora qual serão os próximos passos, porque o Pedro voltando para casa e estando recuperado, não há mais motivos para ela ficar no Brasil. A não ser se for por amor! Que maravilha! Agora torço por isto e observo os dois discretamente.

Sara, esta será mais das inúmeras cartas que te escreverei, porque a alegria que estou não me cabe no meu coração como já disse e repito.


Um beijo de gratidão,
Clara.

(TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)

terça-feira, 27 de setembro de 2016

QUERIDO PAI, (24a. Carta)


Fiquei muito feliz quando ontem, vi a vó Sara entrar pela porta do quarto do Pedro.

Não acreditei. O que você fez? Como a convenceu?  Só sei que ele dormia, eu estava lendo um livro na poltrona ao lado e D. Clara sentada na janela como de costume.

Pai, quando ela se virou e viu a minha vó, ela se levantou e começou a tremer toda e a chorar lágrimas silenciosas. Pensei que ia dar um troço nela; nem pude cumprimentar a vovó direito, corri , segurei a D. Clara e a fiz sentar de novo. Percebi que o assunto era entre as duas, quando minha vó me deu um beijo rápido e pediu que eu saísse do quarto com um gesto silencioso.
Bom, obedeci, mas de fora do quarto, não pude deixar de ouvir a conversa das duas.

Eu ouvia: “Acalme-se Clara. Ou melhor, chore então. Vou pegar uma água para você. Depois voltando, sentou-se perto de D. Clara e eu ouvia somente o choro dela. Passado alguns minutos, dei uma espiada rápida e vi que as duas estavam de mãos dadas, cabeças de encontro uma a outra e choravam em silêncio também. Se abraçaram e eu só ouvia soluços.

Pai, eu entendo que a situação do Pedro é grave. Mas tem mais alguma coisa. Parece que houve alguma coisa entre as duas, uma briga, uma intriga, não sei o que é. Só sei que me pareceu ser tipo uma reconciliação. Fiquei muito feliz. Porque este momento que o Pedro  está vivendo, não deve haver nada para pertubá-lo e ele já havia comentado que achava a D. Clara muito estranha. Mas achou que era pelo estado de saúde dele.

Enfim, depois deste chororô todo, vi que as duas conversavam mansamente e não soltavam as mãos uma da outra. Era uma bela cena. Vó Sara disse que vai ficar mais um dia aqui e depois volta.

Estamos todos na casa da D. Clara, porque ela não permite por nenhum momento sequer  que  possamos pensar em ficar em um hotel.
Amanha é o procedimento do Pedro. Estamos todos convictos que tudo dará certo e que este momento ruim que estamos passando vai ser superado.

Durante toda a noite, vi que minha vó e a D. Clara ficaram longamente conversando,  bebendo vinho, relembrando histórias do passado, olhando fotografias. Foi muito bonito.

Pensei que quero ter um amigo assim na minha vida. Ou melhor, eu já tenho, é o Pedro.
De agora em diante não vamos mais nos separar. Palavra de irmãos.

Um beijo pai,

Kiko.

(TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)

PRÁ PREGAR NA GELADEIRA



"Precisamos de pouco para ser feliz. Menos barulho, mais silêncio, menos cobranças, mais reciprocidade, menos desavenças, mais paz. Apenas isto." 

“Das nossas escolhas possíveis:
Das nossas quedas previsíveis;
Das nossas liberdades intransferíveis!
VIVAMOS! 

"É clichê, mas quanto mais o tempo passa, mais descobrimos que o que tem valor mesmo são os verdadeiros amigos, uma família que te apóia, a saúde em ordem e a paz da consciência tranquila. Precisamos de pouco. O prosaico é que é o sofisticado."

"Silêncio do amor, 
Felicidade à flor...!"

Prá começar, comece o simples, viva o novo, tente o fácil, pratique o maleável,
Desprenda do complexo, abandone o obsoleto e diga adeus ao intransigente.
Facilite seus caminhos, renove suas energias, pratique o amor próprio! Viva!

"Minhas ruguinhas são minhas marcas exclusivas, histórias que vivi. Minha maturidade é minha, meu atestado de todas as dores, escolhas ou flores. Meu tempo é meu caracterizador, desconstrutor ou embelezador, elemento desta originalidade adquirida nas travessias da vida"

"Ser forte é estar quebrado por dentro e mesmo assim mostrar-se inteiro por fora" 

"Amor verdadeiro é quando rimos ou choramos com o outro, tudo na mesma intensidade
"Ando esperando o revés virar graça, a tristeza virar alegria, a solitude virar festa, o tempo virar a vida e o fim virar recomeço"


Lágrimas lavam a alma. Lavam as dores,  limpam para o amanhã que se anuncia. Choremos!

 "A vida é uma vela acesa. Cuidemos para não se apagar de repente"!




quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Comece junto com a primavera...



"Comece junto com a primavera, um mês todo florido de possibilidades" BOM DIA meus ventinhos amados!

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Não carregue magóas, elas te prendem


QUERIDO PAULO ROBERTO, (23a. Carta)


Só para adiantar, aqui é a Maria Cecília, filha da Clara. Quanto tempo Paulo!

Sei que está a par do problema de saúde do meu filho Pedro e tomei a liberdade de te escrever porque durante muitos anos fomos vizinhos, amigos-irmãos.

Agora nossas mães ficaram apenas com nossos filhos, o Pedro e o seu Kiko, que por sinal, tem sido um anjo na doença do meu filho.

Você já deve saber que o único compatível para o transplante de medula foi o Kiko, certo? Ele me contou que disse a você. Não sei como agradecer a vocês; não tem gratidão possível.

Paulo Roberto,  o objetivo da minha carta é conversar contigo sobre uma situação que acontece entre minha mãe e a sua, Dona Sara.
 Paulo, não sei este é um assunto para conversar em uma carta, mas antes de me abrir com o Kiko, preferi falar contigo, porque afinal convivemos muito mais na infância e você sempre foi meu defensor nas brigas da escola... (risos), você sempre foi meu amigo.

Enfim, acho que o tempo que passou nas nossas vidas, as águas que rolaram, o momento atual, tudo vai de encontro a falarmos sobre um segredo do passado, mas sem grandes dramas, porque já se passaram quase 60 anos e tudo perde o sentido grave de uma situação que poderia ser irreversível , se fosse no passado

 Eu sempre soube, no entanto, guardei este segredo por respeito ao meu pai Pedro, à minha mãe, enfim, por tudo.
Mas eu e minha mãe sempre soubemos.

 D. Sara soube agora e não há nada que a faça perdoar a minha mãe, e principalmente se perdoar.

Sei que sou considerava a doidivanas da família. Sou mesmo. Sou leviana, vaidosa, fútil e o mais que quiserem me imputar nos meus quase 60 anos. Mas apesar disto, sempre amei minha família, meu filho e principalmente entendi a condição de mulher de minha mãe.
 Somos falhos, meu amigo e irmão Paulo Roberto. Todos nós falhamos. Não há dia, momento ou tempo. Faz parte da condição humana.
Enfim, esta história não é minha. É de minha mãe Clara, de sua mãe Sara, do seu pai Olívio e do meu pai Pedro. Mas esta história é minha e sua também.

Houve um dia, uma noite, um momento que minha mãe e seu pai fraquejaram e aconteceu o que normalmente acontece entre um homem e uma mulher quando tropeçam confusos em seus sentimentos.
Resumindo Paulo Afonso, eu sou sua irmã. Kiko é meu sobrinho querido. Vocês fazem parte da minha família.
Eu soube quando tinha já idade para entender e o próprio meu pai foi quem me contou. Nunca conheci homem mais excepcional. Por isto dei o nome dele ao meu filho Pedro.

Eu o amei como se fosse meu pai verdadeiro, mas o apoio dele a mim e a minha mãe fez toda a diferença na aceitação que sempre tive desta situação.

D. Sara soube só agora. Não sei por que minha mãe resolveu abrir esta caixa empoeirada dos segredos. Enfim, ela contou a sua mãe e ela não a perdoa. Mas acima de tudo, ela sofre por não  conseguir perdoar.
Paulo Roberto ajude-me. Não suporto mais ver o sofrimento de minha mãe e imaginar o da sua. Eu peço, tente entender também, relevar e me ajudar se possível. Sempre fomos irmãos, independente do sangue, agora muito mais.

Perdoe a longa carta, o segredo inusitado, mas considere o amor irremediável que sempre tive para com você e o Kiko.

Um beijo e um abraço da sua irmã eterna,

Maria Cecília.

PS Dou-lhe toda a autorização para contar ao Kiko se achar viável.

(PUBLICAÇÃO SEG OU QUARTA E SÁBADO)  TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

sábado, 17 de setembro de 2016

DEAR SOPHIA (22a. Carta)

Encostada na janela da ante-sala do quarto do Pedro, olho lá fora e só observo a chuva que cai sem parar.

 O dia amanheceu cinzento e triste, mas por incrível que pareça, o Pedro acordou melhor. Ele dorme agora. Ouvi os seus conselhos e conversei com ele.

Depois do café e quando todos saíram, ficamos de mãos dados olhando um para o outro e ele sorria sem parar. Eu pensei, é agora.

Comecei timidamente: “Pedro, sei que deve estar esperando eu falar contigo sobre aquela carta de quando eu ainda estava em Londres e que você manifestou o seu sentimento por mim. Não é isto?” Ele me olhou e sorriu. Ficamos assim, de mãos dadas rindo um para o outro.

Foi então que ele disse: “Sabe Lisa, eu fiquei muitos dias esperando você falar comigo sobre isto e ao mesmo tempo, eu não tinha coragem de falar pessoalmente. Mas depois de tudo que passamos aqui juntos, você do meu lado, me apoiando, largando toda a sua vida lá para ficar aqui, sinceramente, este seu amor já está de bom tamanho”.

Fiquei surpresa e sem ação Sophia. Ele do nada, resolveu toda a questão entre nós e facilitou tudo para mim. Não sei se estava fazendo isto para me deixar a vontade, ou se realmente estava agora muito mais focado em ficar bem.

Mas assim mesmo eu respondi: “Obrigada Pedro por facilitar tanto as coisas para mim... mas quero te dizer que sempre fomos amigos e não vou dizer que não rolou uma atração na faculdade e eu tive  até uma certa paixonite por você, mas depois fomos ficando muito mais amigos que amantes... (Ele riu), (eu ri).
 Então, depois destes anos todos, você me pegou de surpresa mesmo. Não  sei o que te dizer.”

Aí ele colocou as mãos em meus lábios e disse: “Não precisa falar mais nada não Lisa”, não, por favor, não estrague este momento nosso. Não quero saber se tem alguém, se não há possibilidades, nada,  não agora. Não neste momento ruim que estou passando. “Deixe-me ter ao menos uma ilusão” – Ele disse isto sorrindo, mas vi  passar no fundo dos seus olhos, uma sombra de dor que passou rápido, sabe Sophia?

Então, pensei, ele não quer saber de nada e eu não preciso dizer nada então. Mas pelo menos, falamos sobre isto. Aí continuamos de mãos dados, nos abraçamos e ele disse que iria dormir um pouco. Foi quando vim aqui para esta sala e comecei a pensar sobre tudo, a ver a chuva e a escrever para você.

Estou com um misto de sentimentos muito estranhos, algo aperta a minha garganta, mas não consigo chorar. Não quero te preocupar, mas sei que  já estou. Desde que voltei ao Brasil, sinto este misto de lembranças, saudades, aconchegos, retornos, partidas.

Sophia,  sei que não estou sendo justa contigo, mas preciso estar aqui agora e prometo que assim que tudo passar, teremos uma longa conversa sobre tudo o que gira nestes círculos de sentimentos loucos que se apoderaram de mim  depois da volta à minha vida aqui.
Um beijo e por favor, seja paciente comigo,

Missing you.


Lisa.
(Publicação segunda ou quarta e sábado) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

DEAR LISA (21a. Carta)


Estou com saudades de você e dos nossos momentos juntos.
Senti na sua carta esta apreensão em relação à situação do Pedro e por ele ter aberto os sentimentos em relação a você.

Querida, você sabe que eu a amo, que tenho ciúmes como toda pessoa apaixonada. Mas por favor, não se martirize tanto com isto e principalmente, se abra com ele. Ninguém merece se sentir excluído ou saber que tivemos pena dele em algum momento da vida. Você sente pena? É só isto? Ele não merece isto. Não merece sua pena e você não merece se martirizar.

Sei que o momento dele é de dor, mas sei também que ele se sentirá muito melhor quando vocês conversarem.  Então, quando sentir  alguma  melhora no estado de saúde dele, independente se for antes ou depois da cirurgia, converse com ele. Ok? E depois, por favor, me liga ou escreva.

Aqui está como sempre, vou e volto do trabalho na minha bike, mas como o inverno se aproxima, já sinto muitas dificuldades deste transporte... A cada dia sinto mais falta de você. Sei que precisa ficar aí, mas, por favor, não demore muito. Não demore em me dizer se vai voltar ou se vai ficar... Sem fazer dramas, sinto que algo ronda o nosso amor, mas quero acreditar que tudo será como antes.

Um beijo,
Missing you!


Sophia.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

QUERIDA VÓ SARA (20a. Carta)



Aqui do fundo do corredor à meia luz, eu te escrevo para contar como estão as coisas por aqui.
O Pedro deu uma leve melhora e estamos confiantes que vai estar bem melhor para o dia do procedimento.  Mas vó, percebo muita coisa estranha aqui.

Claro, o momento é estranho. Mas sinceramente, gostaria de entender melhor o que está acontecendo, por exemplo, entre a Lisa e o Pedro. Sei que ele se declarou a ela antes dela chegar aqui ao Brasil. Sei que o momento é muito complicado, mas como eles são amigos há anos, eu não sei o porquê dela ainda não haver conversado com ele sobre isto.

Ou seja, só pode ser porque tenha outro em Londres. Não tem explicação. Porque pelo menos ela poderia conversar com ele, dizer que ficou feliz, etc. e tal e que quando ele melhorasse, eles iriam conversar sobre.
 Mas ela apesar de toda a dedicação, não diz absolutamente nada. Acho que o Pedro precisa ouvir isto dela! Olha, eu decidi, vou conversar com a Lisa sobre isto. Não tem mais jeito.

Bom, outra coisa, diz respeito a você e a D. Clara. Afinal porque você não está aqui, vó?
Eu a convidei, também insisti e você disse que viria depois com a Elvira. Mas já tem quase uma semana e nada. Por quê? A D. Clara está precisando MUITO de você!

Vocês são como irmãs! Dá pena ver como ela está sofrendo e como anda como uma sonâmbula pelos corredores do hospital, apenas com a Flora de companhia. Não aceita ficar em casa de jeito nenhum!
Quando converso sobre você e ela, seus olhos se enchem de lágrimas e eu percebo que há alguma coisa que não quer me contar. Aliás, o Pedro já havia me cantado esta bola antes. O que aconteceu? Será que é algo tão sério que não possa ser esquecido neste momento?

Desculpe se estou fazendo o seu papel, que é o de me chamar à razão. Mas eu não entendo o que está acontecendo. Nem com Lisa e nem com você. Por favor, explique-me e se não for vir, diga-me claramente.
Até a Maria Cecília que todos dizem é uma doidivanas como você diz... Está muito preocupada com o Pedro. 
Fica horas parada olhando fixamente para ele. Não consegue rezar, me disse um dia e quando é assim,  ela sai desesperada. Dizem que nestes momentos, ela faz compras. Deve ser a sua válvula de escape. 

Vó espero que esteja bem de saúde. Sabe que vou ficar aqui mais alguns dias. Se precisar de alguma coisa, por favor, ligue para mim, mas se for urgente, peça a Elvira para ligar para o meu pai.

Eu conto contigo vó! Você nunca me decepcionou.


Um beijo carinho e um abraço apertado do,

Kiko.

(TODOS OS DIREITOS RESRVADOS) publicação segunda ou quarta e sábado.

domingo, 4 de setembro de 2016

QUERIDA SARA, (19a. Carta)



Que alegria receber a sua carta! Apesar das dores e preocupações pelas quais estou passando, meu coração se abriu de felicidade.

 Sei que está muito magoada comigo e ainda precisa de tempo, mas o fato de ter me escrito, já mostra o coração incomparável que sempre teve.
Sei que sua magoa não ficaria acima dos problemas pelos quais eu estou passando com o Pedro, e que você é esta mulher especial que sempre foi.

Sara, fugi um pouco do quarto e estou aqui no pátio te escrevendo.
Ninguém quer que eu fique lá, Maria Elisa, a Paula e a Nanda que também chegaram. Dizem para eu ficar em casa com a Flora, rezar e confiar. Que o ambiente do hospital é ruim para mim. “Olha o seu coração!” Dizem as meninas.
Eu já não tenho coração, Sara! Meu coração está com o Pedro naquele quarto. Eu não posso sair do lado dele ou de fora do quarto dele. Fico até não poder agüentar mais, porque acho que se sair, o Pedro pode partir...

Todos se preocupam comigo. Flora não sai do meu lado. Mas ela tem a grande qualidade de ficar calada e sei que reza.
Agora é só rezar que podemos fazer. Rezar para que o Pedro melhore, para que fique forte, rezar para que no dia do procedimento, o transplante seja bem sucedido e que para as fases seguintes o organismo dele continue a evoluir. Respiro fundo e olho através do jardim. Vejo rosas brancas, margaridas e meu coração se acalma. Choro. Aqui fora eu posso chorar.

Deus não pode deixar o meu neto querido partir, Sara! O Pedro é o único que se importa comigo. Mesmo quando esteve fora, ele esteve comigo, você entende né?
Eu e ele somos um só. E Deus não vai fazer isto comigo e nem com ele.

Você sabe que a Lisa está aqui né? Vejo nos olhos dela muita preocupação, mas muita força e carinho. Sei que o Pedro a ama. Sempre soube. Só não sei por que eles nunca se acertaram.

Lisa é uma alma única. Ela é especial. Fica horas segurando as mãos dele e conversa, mesmo quando ele não tem forças para responder. Ela relembra as aventuras deles da juventude, da faculdade e conta as histórias das viagens que fez. Ela ri, muitas fezes ri sozinha, mas vejo que ele nestes momentos aperta com força as mãos delas. E vejo lágrimas tímidas nos olhos de Lisa.

Nestes momentos eu saio do quarto Sara. Vou caminhando feito uma louca pelos corredores com Flora no meu encalço. Lá fora consigo respirar um pouco. Quando olho para o lado, eu vejo novamente Flora com os olhos grandes me observando. Seguramos nossas mãos e caminhamos para a capela que tem aqui, ou para o jardim, porque um jardim é o templo de Deus também.

Sara, obrigada por existir e me escrever. Quando tudo passar e vai passar, mesmo que você não queira, eu vou até ai para conversarmos. Não tenho palavras para agradecer a sua amizade, a amizade do Kiko e a grandeza da sua alma.
A minha alma é pequena, eu sei. Mas parodiando aquele escritor, acredito que tudo vale à pena.
Já diviso a minha sombra Flora lá no fundo do jardim. Vou ficando por aqui.

Obrigada, um beijo e um abraço apertado de horas melhores,


Clara.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CLARA, (18a. Carta)




Recebi sua carta, mas como estou em um processo de assimilação de tudo o que aconteceu, fico sozinha zanzando no jardim com os meus pensamentos e não tive nenhum ânimo para te escrever ainda. Acho que a minha ajudante Elvira acha que enlouqueci de vez.


Quero ficar em silêncio Clara. Preciso ficar em silêncio. Só com os meus pensamentos e minhas dores.  

Mas te escrevo, porque
 acima de tudo, preciso deixar estes ressentimentos de velha tola e conversar contigo neste momento muito difícil que você tem passado com o Pedro.

O Kiko me contou que o Pedro já está com o procedimento marcado para o transplante e que ultimamente não está se sentindo muito bem, o que é natural devido ao tratamento.

Estamos rezando para que tudo dê certo, para que ele saia deste momento e fique muito mais forte do que ele sempre foi.

O Kiko também disse, que vai estar de volta para acompanhá-lo no dia do procedimento e ficará mais alguns dias com ele, embora nesta fase as visitas sejam limitadas.

Ele  participou junto com vocês das reuniões  realizadas pelos especialistas de como será todo o processo e disse que é uma fase dura, de muita instabilidade e mal estar para o Pedro, mas que ele já está ciente e muito confiante. O Kiko acredita que a presença de Lisa o está ajudando muito. Fico feliz por isto.

Clara, sei que gostaria de ouvir de mim que tudo está bem quanto ao que me disse. Principalmente em um momento como este. Mas ainda não estou pronta. Sinto-me péssima por isto. E também culpada. Porque o que você está passando é muito maior do que este meu ressentimento juvenil e inapropriado.

Talvez devêssemos conversar frente a frente. Talvez devêssemos bater boca. Talvez devêssemos rolar pelo chão, duas velhas alucinadas resolvendo este dilema de anos. Talvez Clara... talvez... 
 

Com tudo isto, só consigo rezar para que o Pedro fique bem. Para que uma luz de  nova vida brilhe para ele, pois  tem uma estrada enorme pela frente.  Não nós, não nós. Nossa estrada está quase finda.

Continue firme. Continue acreditando. Tudo vai dar certo. Porque Deus quer e será assim.

Fique na paz. Tentarei ficar na minha.

Desejo-te caminhos suaves, brisas de primavera, sem muitas quimeras.

Sara
(TODOS OS DIREITOS RESERVADOS) - PUBLICAÇÃO SEGUNDA OU QUARTA E DOMINGO.

sábado, 27 de agosto de 2016

QUERIDA SOPHIA, (17a. Carta)


Como está, tudo bem? E o nosso “fog” londrino? Muito romântico e tentador?
Depois que cheguei ao Brasil só tenho feito companhia ao Pedro. Estou com muitas saudades.
Sophia lembra o que ele me disse naquela carta e que eu te contei ainda em Londres?

Pois é, depois que cheguei,  o encontrei todo mudado;  não fisicamente, porque eu já esperava isto do tratamento.
Mas mudado no brilho do olhar. O Pedro me olha como se quisesse me atravessar. Sorri mais luminoso e seguro e aperta as minhas mãos durante as sessões de quimio, como se eu fosse o seu porto seguro.
 Mesmo depois quando ele parece morrer, com vômitos, mal estar e tudo que vem junto, eu sinto que só de eu estar ali do lado dele, está fazendo a maior diferença.
Fico feliz por isto, mas, Sophia, nunca esperei ouvir o que ele me disse naquela carta, ou seja, que me amava.

Eu acho que o Pedro está misturando tudo por conta do tratamento e por estar fragilizado. Nunca tivemos nem um clima sequer durante toda a nossa amizade. Não precisa ter ciúmes... Aliás, você é namorada mais cabeça feita que uma pessoa possa ter.
 Sendo sincera contigo, claro que houve um tempo que achei que  até podia rolar alguma coisa, mas ele estava sempre distante e eu sempre com alguém. Aí, nossa amizade fortaleceu muito mais que qualquer outra coisa que poderia a vir a acontecer entre um homem e uma mulher.  Maior que amor, se você quer saber.
Eu o amo, claro, mas como a um irmão. Não há nenhuma possibilidade de haver alguma coisa entre a gente e principalmente porque conheci você. Você que é uma experiência única na minha vida, você que se tornou a luz para mim agora.

Sophia, eu estou com muitas saudades. Saudades dos nossos papos, da nossa convivência, tudo que tenho aprendido  contigo e principalmente, saudades do nosso amor. Mas sei que você entende que o momento é este, de ficar com o meu amigo irmão. Pedro precisa muito de mim e eu preciso muito que ele sobreviva, porque ele também faz parte da minha história.

Sei que ele espera uma resposta minha, me olha com olhos ansiosos e desesperados. Mas como dizer isto a ele agora??? Como acabar com os seus sonhos, planos, em um momento que ele está muito frágil??? Acredito que para algumas pessoas que estão passando por um momento como o dele, ser verdadeiro pode mostrar o quanto as consideramos fortes.
Mas não posso arriscar... O que fazer meu amor? Você que é uma luz para mim, ajude-me! Porque estou no escuro.
 Hoje quando cheguei ao hospital, vi que ele estava escrevendo alguma coisa e que rapidamente colocou sobre o travesseiro.  Fiz que não vi. Mas não quero mais ter segredos com o meu amigo de uma vida. Ouço-o ele tossir e vou até lá ver se precisa de alguma coisa. Devo ficar aqui mais algumas semanas, porque a parte mais difícil está para vir. Ou seja, não sei mais qual é a parte mais difícil deste tratamento.

Com amor,
Lisa.


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

OLÁ KIKO, (16a. Carta)


Cara, que saudades dos nossos papos durante o tratamento. Você além de parça,  é agora meu irmão maior! E nem preciso agradecer pelo que fez por mim, porque não há agradecimento possível, nem nesta, nem noutra vida.

Agora que a Lisa chegou e tomou seu lugar aqui ao meu lado, estou muito feliz, mas também com vontade de bater  aqueles nossos altos papos sobre a vida e o futuro.

Cara, eu te falei que me declarei à Lisa por carta. Ela não me respondeu nada. Chegou faz três dias, feliz, sorridente, me abraçou como o velho amigo e...nada!

A única diferença que percebi, foram os olhos dela me vigiando enquanto eu fingia dormir durante a quimio.
Cara, ou eu estraguei tudo ou a Lisa não quer nada comigo!
Ela poderia me dizer qualquer coisa, mas não dizer nada, está me torturando!

Acho que vou tocar no assunto com ela hoje, cara! A presença dela aqui só mostrou o quanto eu a amo, o quanto não posso deixá-la partir. Não, não posso!

Sei que está ai, curtindo com a minha cara e me achando o maior palhaço do planeta e que só a doença para me fazer tão dramático como estou. Vá lá Kiko! Você sabe que a Lisa é especial, c ara. Sempre foi.

Mas durante todo o tempo, ela sempre tinha alguém, um cara, um amigo colorido, sempre uma pessoa a  tiracolo. E eu sempre fui amigo. E só.
Mas com o tempo, a faculdade, o mestrado, a viagem dela, a minha viagem, eu percebi que não tem mais ninguém no mundo além dela que eu goste de discutir o “ motivo das gaivotas fazerem tanto barulho...”, ou porque a maré sobe mais no litoral Sul do que no Norte...
Não posso perdê-la. Mas se tive a coragem de falar por carta, agora que estou careca, magro, quase um moribundo,  acho que Lisa só tem piedade de mim. Sinto-me péssimo.  Mas como estou no fundo do poço, além do fundo como dizem, não tenho nada a perder mesmo.
Estou aqui escrevendo e ouço os passos no corredor. É a Lisa! Eu conheço estes passos.

Eu conheço o perfume dela. Eu conheço tudo da Lisa. Tô escondendo a carta aqui, cara.
Amanhã eu complemento, porque senão sair vivo desta, não sairei também sem  demonstrar a ela,  o porquê de ainda estar vivo.


Pedro.
(TODOS OS DIREITOS RESERVADOS ) publicação seg.quarta/sábado

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

QUERIDA SARA, (15a. Carta)



Começo esta carta com o mesmo trecho que mandou de “Sound of Silence:-

“Olá escuridão, minha velha amiga
Eu vim para conversar com você novamente
Por causa de uma visão que se aproxima suavemente
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo
E a visão que foi plantada em minha mente
Ainda permanece
Dentro do som do silêncio"

É assim que me sinto hoje e como você sentiu quando te contei.
Lá fora os ventos fustigam as janelas e a chuva cai torrencialmente aqui em Curitiba.
Deve ser o mundo acabando porque eu acabei com uma amizade pura de anos. Desculpe se estou sendo dramática e fazendo-me de vítima. Meu sofrimento está cima do meu pudor.

Ultimamente também fico à meia luz, sentada na poltrona velha, ouvindo apenas o tic-tac do relógio velho, morando na casa velha, onde tudo é velho, inclusive os meus sentimentos.
Nisto tudo, tem um lado que me consola porque sinto que o Pedro está animado com o tratamento, embora este mesmo tratamento leve toda a dignidade da pessoa até ela melhorar completamente. Mas ele é jovem, forte e tudo vai ficar bem.

Sara, quando vou poder caminhar o caminho da nossa amizade novamente?
Quando vou poder caminhar o caminho do seu coração? Do seu perdão?

Eu sou sua amiga. Mas fui a maior traidora daqueles dias lindos de amizade pura que tivemos com nossas famílias.  Você e Olívio era a minha família! Vou morrer e esta culpa vai me acompanhar. A única esperança que tenho é se pudermos um dia sentar frente a frente e conversamos sobre tudo.  Eu não tenho explicações para o que aconteceu, mas quero explicar!

Só sei que somos ligados agora mais que antes. A Maria Cecília me ronda querendo saber o motivo da minha inanição quando não estou com o Pedro. Devo contar a ela? Não sei. Eu a fiz vir aqui para dar a sua porção de amor que um filho precisa quando está doente. Ela mais vai ao shopping do que fica com ele. Mas está aqui.

Lisa vai chegar amanhã. Lembra-se dela? Aquela namorada- amiga do Pedro, a qual ele nunca assumiu nem prá si próprio que ama. Pedro está eufórico e sinto que quando ela chegar, o Kiko vai poder voltar para ficar contigo.

Repito, não quero ser vítima. Mas a velhice me permite implorar. Eu imploro! Dê-me uma chance de revê-la e tentar curar esta ferida que se abriu no meu peito e que sempre doeu desde que a Maria Cecília nasceu.  
Eu pensei em morrer com este segredo. Porque não mudaria quase nada para ninguém. Mas com certeza o meu inconsciente queria te contar. Só não sei se conseguirei viver o com julgamento de todos.  Mas acredito que os percalços desta vida devam ser revelados e relevados se for o caso. 

Se não for o nosso caso, tenha sempre em seu coração que eu sou sua amiga até o infinito.

Para sempre,

Clara

 (TODOS OS DIREITOS RESERVADOS) publicação seg/quarta e domingo.




quarta-feira, 10 de agosto de 2016

QUERIDA LISA, (14a. Carta)



Respondo sua carta já agora do hospital. Aliás, eu dito esta carta para o meu doador e amigo preferido dE infância. O Kiko! Lembra de eu falar nele?
Sara, estou no tratamento necessário antes do início do transplante e a grande notícia foi que o Kiko é compatível!

Foi emocionante! Nunca podíamos imaginar. Esta descoberta veio no momento que eu estava quase querendo desistir, mas que chegou para me ativar o ânimo.  Além dele poder me ajudar, ainda está comigo aqui neste inicio, que consiste do tratamento para viabilizar o transplante.
Assim, estou agora aqui deitado, com um cateter venoso para viabilizar o recebimento de quimioterapia, transfusões, antibióticos, medicamentos e tudo o mais que você nem queira saber.
Tenho sentido muitas náuseas e perda de apetite. Tem dias que certamente acho que vou realmente morrer Lisa.  Mas quando olho para os olhos da vó Clara, agora tão calada, eu sinto que preciso continuar por ela.
Ela tem me feito bastante companhia quando o Kiko tem que sair para alguma coisa.
Conta estórias da família, vemos filmes, comemos pipocas e principalmente ela fala muito na vida que teve com o vô Pedro,a D. Sara e o Sr. Olívio antes de mudarmos aqui para Curitiba.
Sabe, vó Clara teve uma vida muito boa, de grandes noites com os amigos, ida ao teatro, música e amizade. Apenas sinto que quando  atualmente fala na D. Sara, seus olhos se escurecem e ela cala repentinamente. Enfim, estou muito fraco para perguntar. Mas vou perguntar. Ela tem um segredo Lisa.

Diga-me, quando você chega? Já terminou seu trabalho aí? Preciso de você como nunca precisei de ninguém. Por favor, volte logo. Desculpe se estou emotivo demais.
Estou perdendo tudo, cabelos, forças e só não posso perder as pessoas que amo.
E eu amo você Lisa. Pronto, falei, como diz hoje em dia.

Sempre amei. Descobri isto quando você partiu para Londres há cinco anos.  E depois quando fui te visitar aí eu tive certeza. Só não falei para não estragar a nossa amizade mais forte que a rocha...como você sempre disse.
Mas como agora eu não sei o futuro, que pelo menos o presente  seja dito.
Se não puder ter o seu amor, por favor, não me tire a sua amizade.

Um beijo,

Pedro