domingo, 17 de julho de 2016

QUERIDA LISA, (9a. Carta)



Resolvi seguir o seu conselho e me abri com minha avó Clara.  Se foi um momento muito difícil para mim e imagina para ela.

Só sei que tentei me mostrar o mais forte possível, mas choramos juntos por tudo, pela doença, por nossa vida, pelos nossos sonhos, por tudo eu acho.

 No entanto, o fato de ter me aberto com ela, me fez de repente sentir aliviado e acredito que a ela também.
Sabe Lisa, depois que me abri, só pedi a Flora para ficar com ela, qualquer coisa me ligasse e sai sem rumo pela cidade, peguei a estrada e dirigi por umas duas horas.

 Sabe o que eu ouvia enquanto dirigia? Phil Collins! E pensei em você. Lembra que você me dizia que sempre o colocava quando estava triste e que nunca se enjoava de ouvi-lo? Principalmente na fase solo dele!  Segui sua dica e também coloquei o Phil para ouvir.

Quanta intimidade eu já tenho com ele... Bem Lisa, ouvindo o Phil, eu fui chorando muito pela estrada a fora, mas também fui me acalmando. Foi me dando uma sensação de paz, de bem estar e principalmente de esperança.   O Phil acalma a gente mesmo...

Na volta, nos encontramos mais calmos; percebi que se a avó Clara chorou, não demonstrou. Segurou em minhas mãos e disse com sua severidade peculiar: “Escuta Pedro, você tem que começar o tratamento amanhã! Já!” Você sabe disto não é? E eu já liguei para sua mãe e contei a ela. Nunca precisamos dela né Pedro?Mas agora você precisa e ela vai ter que vir aqui dar um apoio para nós todos.
 Falei firme com ela e sério. Ela ficou meio apavorada e eu disse: “Precisa se apavorar não Maria Cecília! Você sempre despreparada! Vamos cuidar do Pedro e de todos nós agora! Tome juízo Maria Cecília! Enquanto deu para você empurrar a vida, você empurrou, mas agora o assunto é serio!”

 E por aí foi Lisa, você conhece minha avó. Ela não manda recado!  Só sei que minha mãe marcou o vôo dela para daí a dois dias! A bem da verdade não sei exatamente em que D. Maria Cecília irá nos ajudar, mas Vó Clara acha que ela é imprescindível aqui...

Com tudo isto, sabe, ela conseguiu injetar um ânimo absurdo na minha vida. Parece que estamos para iniciar uma maratona da qual não haverá chances de perdermos. Então eu marquei a consulta com o médico para amanhã e vamos ver com o que ele diz.

Estou sentindo muitos suores noturnos que me incomodam muito, dores nas articulações e bastante fraqueza. Mas sabe Lisa, não sei por que, mas uma esperança renasceu no meu coração e uma imensa vontade de lutar por estas pessoas que se importam tanto comigo, você e a avó Clara.

Antes quando pensava na batalha, já tinha desânimo só de pensar em começar. No tratamento, na pena que veria nos olhos das pessoas, nos sintomas, e principalmente, nesta luta que não via muito motivos para fazer.
Mas agora eu não posso desistir e principalmente não posso falhar Lisa. Nem é por mim, mas pela minha avó Clara. Se ela acredita, eu tenho que acreditar.

Enquanto você não chega, vou ouvindo "nosso" Phil Collins. Aliás, ótima companhia.

Um beijo,

Pedro.
*Publicação duas vezes por semana, segunda-quarta ou domingo

(TODOS OS DIREITOS RESERVADOS) 

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