quarta-feira, 21 de setembro de 2016

QUERIDO PAULO ROBERTO, (23a. Carta)


Só para adiantar, aqui é a Maria Cecília, filha da Clara. Quanto tempo Paulo!

Sei que está a par do problema de saúde do meu filho Pedro e tomei a liberdade de te escrever porque durante muitos anos fomos vizinhos, amigos-irmãos.

Agora nossas mães ficaram apenas com nossos filhos, o Pedro e o seu Kiko, que por sinal, tem sido um anjo na doença do meu filho.

Você já deve saber que o único compatível para o transplante de medula foi o Kiko, certo? Ele me contou que disse a você. Não sei como agradecer a vocês; não tem gratidão possível.

Paulo Roberto,  o objetivo da minha carta é conversar contigo sobre uma situação que acontece entre minha mãe e a sua, Dona Sara.
 Paulo, não sei este é um assunto para conversar em uma carta, mas antes de me abrir com o Kiko, preferi falar contigo, porque afinal convivemos muito mais na infância e você sempre foi meu defensor nas brigas da escola... (risos), você sempre foi meu amigo.

Enfim, acho que o tempo que passou nas nossas vidas, as águas que rolaram, o momento atual, tudo vai de encontro a falarmos sobre um segredo do passado, mas sem grandes dramas, porque já se passaram quase 60 anos e tudo perde o sentido grave de uma situação que poderia ser irreversível , se fosse no passado

 Eu sempre soube, no entanto, guardei este segredo por respeito ao meu pai Pedro, à minha mãe, enfim, por tudo.
Mas eu e minha mãe sempre soubemos.

 D. Sara soube agora e não há nada que a faça perdoar a minha mãe, e principalmente se perdoar.

Sei que sou considerava a doidivanas da família. Sou mesmo. Sou leviana, vaidosa, fútil e o mais que quiserem me imputar nos meus quase 60 anos. Mas apesar disto, sempre amei minha família, meu filho e principalmente entendi a condição de mulher de minha mãe.
 Somos falhos, meu amigo e irmão Paulo Roberto. Todos nós falhamos. Não há dia, momento ou tempo. Faz parte da condição humana.
Enfim, esta história não é minha. É de minha mãe Clara, de sua mãe Sara, do seu pai Olívio e do meu pai Pedro. Mas esta história é minha e sua também.

Houve um dia, uma noite, um momento que minha mãe e seu pai fraquejaram e aconteceu o que normalmente acontece entre um homem e uma mulher quando tropeçam confusos em seus sentimentos.
Resumindo Paulo Afonso, eu sou sua irmã. Kiko é meu sobrinho querido. Vocês fazem parte da minha família.
Eu soube quando tinha já idade para entender e o próprio meu pai foi quem me contou. Nunca conheci homem mais excepcional. Por isto dei o nome dele ao meu filho Pedro.

Eu o amei como se fosse meu pai verdadeiro, mas o apoio dele a mim e a minha mãe fez toda a diferença na aceitação que sempre tive desta situação.

D. Sara soube só agora. Não sei por que minha mãe resolveu abrir esta caixa empoeirada dos segredos. Enfim, ela contou a sua mãe e ela não a perdoa. Mas acima de tudo, ela sofre por não  conseguir perdoar.
Paulo Roberto ajude-me. Não suporto mais ver o sofrimento de minha mãe e imaginar o da sua. Eu peço, tente entender também, relevar e me ajudar se possível. Sempre fomos irmãos, independente do sangue, agora muito mais.

Perdoe a longa carta, o segredo inusitado, mas considere o amor irremediável que sempre tive para com você e o Kiko.

Um beijo e um abraço da sua irmã eterna,

Maria Cecília.

PS Dou-lhe toda a autorização para contar ao Kiko se achar viável.

(PUBLICAÇÃO SEG OU QUARTA E SÁBADO)  TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

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