Só para adiantar, aqui é a Maria Cecília, filha da Clara.
Quanto tempo Paulo!
Sei que está a par do problema de saúde do meu filho Pedro e tomei a liberdade de te escrever porque durante muitos anos fomos vizinhos, amigos-irmãos.
Agora nossas mães ficaram apenas com nossos filhos, o Pedro
e o seu Kiko, que por sinal, tem sido um anjo na doença do meu filho.
Você já deve saber que o único compatível para o transplante
de medula foi o Kiko, certo? Ele me contou que disse a você. Não sei como
agradecer a vocês; não tem gratidão possível.
Paulo Roberto, o
objetivo da minha carta é conversar contigo sobre uma situação que acontece
entre minha mãe e a sua, Dona Sara.
Paulo, não sei este é
um assunto para conversar em uma carta, mas antes de me abrir com o Kiko,
preferi falar contigo, porque afinal convivemos muito mais na infância e você
sempre foi meu defensor nas brigas da escola... (risos), você sempre foi meu
amigo.
Enfim, acho que o tempo que passou nas nossas vidas, as
águas que rolaram, o momento atual, tudo vai de encontro a falarmos sobre um
segredo do passado, mas sem grandes dramas, porque já se passaram quase 60 anos
e tudo perde o sentido grave de uma situação que poderia ser irreversível , se
fosse no passado
Eu sempre soube, no entanto, guardei este segredo por
respeito ao meu pai Pedro, à minha mãe, enfim, por tudo.
Mas eu e minha mãe sempre soubemos.
D. Sara soube agora e
não há nada que a faça perdoar a minha mãe, e principalmente se perdoar.
Sei que sou considerava a doidivanas da família. Sou mesmo.
Sou leviana, vaidosa, fútil e o mais que quiserem me imputar nos meus quase 60
anos. Mas apesar disto, sempre amei minha família, meu filho e principalmente
entendi a condição de mulher de minha mãe.
Somos falhos, meu amigo e irmão
Paulo Roberto. Todos nós falhamos. Não há dia, momento ou tempo. Faz parte da
condição humana.
Enfim, esta história não é minha. É de minha mãe Clara, de
sua mãe Sara, do seu pai Olívio e do meu pai Pedro. Mas esta história é minha e
sua também.
Houve um dia, uma noite, um momento que minha mãe e seu pai
fraquejaram e aconteceu o que normalmente acontece entre um homem e uma mulher
quando tropeçam confusos em seus sentimentos.
Resumindo Paulo Afonso, eu sou sua irmã. Kiko é meu sobrinho
querido. Vocês fazem parte da minha família.
Eu soube quando tinha já idade para entender e o próprio meu
pai foi quem me contou. Nunca conheci homem mais excepcional. Por isto dei o nome dele
ao meu filho Pedro.
Eu o amei como se fosse meu pai verdadeiro, mas o apoio dele
a mim e a minha mãe fez toda a diferença na aceitação que sempre tive desta
situação.
D. Sara soube só agora. Não sei por que minha mãe resolveu
abrir esta caixa empoeirada dos segredos. Enfim, ela contou a sua mãe e ela não
a perdoa. Mas acima de tudo, ela sofre por não conseguir perdoar.
Paulo Roberto ajude-me. Não suporto mais ver o sofrimento de
minha mãe e imaginar o da sua. Eu peço, tente entender também, relevar e me
ajudar se possível. Sempre fomos irmãos, independente do sangue, agora muito
mais.
Perdoe a longa carta, o segredo inusitado, mas considere o
amor irremediável que sempre tive para com você e o Kiko.
Um beijo e um abraço da sua irmã eterna,
Maria Cecília.
PS Dou-lhe toda a autorização para contar ao Kiko se achar viável.
(PUBLICAÇÃO SEG OU QUARTA E SÁBADO) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
Nenhum comentário:
Postar um comentário