quinta-feira, 16 de junho de 2016

QUERIDA CLARA, (1a. Carta)


Aqui  todos vão bem. Apenas eu que de uns tempos para cá venho sentindo repentes de tristeza. Não sei o que é. Vem um aperto. Um nó e passa. Fica uma sensação ribombando como um eco de angústia. Tenho medo de ser a tal da depressão. Sai prá lá...!

E você? Como andam as coisas e a vida em geral? Você ainda está tomando aquele seu remédio para o coração? Está tudo bem? Espero que sim.
É,  na nossa idade os problemas de saúde só aumentam. Parece que estamos descendo uma ladeira abaixo, só para baixo.
Além dos problemas de saúde, começamos a ver bem os que nos cercam. E às vezes o que vemos, não é nada bom.

Semana passada foi visitar o Olívio. Quero dizer, fui ao túmulo dele lá no cemitério das Oliveiras onde ele repousa para sempre. Quanta saudade! As flores que  deixei no dia do seu aniversário, estavam ressequidas, o vaso tombado. Tudo morto. Tudo solitário.

Muitas vezes Clara, eu me lembro de quando éramos jovens, eu o Olívio, você e o Pedro. Lembra-se?

Você era tão elegante com suas echarpes de seda, seu porte altivo.
Não tinha quem não te olhasse quando entrava em um lugar.

Durante os anos que fomos vizinhos, eu fui uma das pessoas mais felizes, pois além da vida que tinha com o Olívio, eu pude compartilhá-la com você, esta pessoa singular que é você Clara e que são poucas.
 Éramos como uma família nós quatro, pois sozinhos em uma cidade nova, vocês se tornaram  mais que vizinhos. Sinto saudades daquela época. Tudo passa né? Menos as lembranças.

Clara, fico feliz que ainda posso escrever; não enxergo como antes, as mãos tremem, mas consigo ser independente nisto. Meu neto Kiko disse que seria bom eu usar o computador. Mas Deus me livre daquele treco...! Letrinhas miúdas e que de repente fogem... Prefiro assim.
Olha, agora vou ter que parar porque ouço a campainha tocar e estou sozinha.
Escreve-me também. Conte-me das meninas e do Pedro seu neto. Ele já voltou dos Estados Unidos?
Quando voltar a te escrever, quero te contar um segredo que não tive coragem de compartilhar com ninguém. Por isto é segredo, né?

Um beijo e um abraço apertado de horas...

                                     Sara.
*(TEXTO REGISTRADO PORTAL DIREITOS AUTORAIS)


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